terça-feira, 18 de maio de 2010

A política começa na família

A política é uma doença e deve ser tratada exatamente assim. Ela é mais perigosa do que o câncer, e se cirurgia for necessária, deve ser feita. A política é basicamente suja. Ela tem que ser porque para um só posto milhares de pessoas ansiando, desejando; então naturalmente eles irão lutar, eles irão matar, eles farão qualquer coisa. Todo nosso programa mental está todo errado: fomos programados para sermos ambiciosos. É aí que está a política. Não está somente no mundo comum da política, ela até mesmo poluiu sua vida ordinária.
Mesmo uma criança pequena quando começa a sorrir para a mãe, para o pai – um sorriso falso; sem nenhuma profundidade nele. Mas ela sabe que quando sorri ela é recompensada. Ela aprendeu a primeira regra de ser um político. Ela ainda está no berço e você já a ensinou política.
Há política em toda parte nas relações humanas.
O homem tolheu a mulher. Isso é política.
As mulheres constituem metade da humanidade. O homem não tem nenhum direito de tolhê-las, contudo, há séculos, ele vem tolhendo-as completamente. Ele não permitiu a elas educação. Ele não permitiu nem mesmo que elas escutassem as escrituras sagradas. Em muitas religiões ele não as permitiu entrar no templo. Ou, quando ele permitiu, elas tinham uma seção separada; elas não podiam ficar de igual para igual com os homens mesmo diante de Deus.
Mas tudo começou com o próprio Deus. Você pode não estar ciente... porque normalmente todo mundo esqueceu. Os cristãos não o mencionam, os judeus não o mencionam. Adão e Eva são declarados como sendo o primeiro homem e a primeira mulher; Adão é certamente o primeiro homem, mas Eva não é a primeira mulher. Deus fez Adão e Lilia, e os fez semelhantes em tudo – a mesma altura, a mesma inteligência, o mesmo vigor, a mesma mente.
Mas os deuses dos tolos não podem ser muito sábios. Ele fez esses dois, mas ele não conseguiu fazer uma cama de casal! Ele fez uma cama pequena, e na primeira noite surgiu o problema de quem iria dormir na cama e quem iria dormir no chão: Assim – a briga de travesseiros não é nova, ela é tão antiga quanto o homem – eles começaram a jogar coisas um no outro. Ambos eram física e mentalmente iguais, e a mulher não podia ser subjugada: Adão tinha que dormir no chão.
Vendo que todos os animais estavam olhando através das janelas para o que estava acontecendo – e a mulher era inflexível, como ela sempre foi – ela dormiu na cama e o pobre Adão dormiu no chão, ele ficou com muita raiva.
Ele foi até Deus no dia seguinte e disse, "Essa mulher não serve. É muito problema. Só, eu estava bem. Foi minha culpa quando lhe pedi, ‘Estou sozinho; me dê uma companhia’. Que espécie de companhia você me deu? E você não podia ter sido um pouco mais compreensivo? Como é que duas pessoas podem dormir numa cama pequena? Preciso de uma mulher que não seja de maneira nenhuma igual a mim."
Lilia foi desmontada. Agora Eva foi criada de uma maneira totalmente diferente. Aconteceu a primeira cirurgia no mundo. Quando o pobre Adão estava adormecido – talvez tenha sido dado a ele algo semelhante a clorofórmio – Deus retirou uma de suas costelas e fez uma mulher da costela para que ela nunca fosse igual a ele; ela será apenas uma costela. E Eva tornou-se conhecida como a primeira mulher, mas realmente, ela era a segunda. Eu preferia a primeira mulher; ela tinha algum sal, algum vigor. Ela conseguiu na primeira noite colocar Adão no chão. Ele precisava disso.
Eva porém, era muito como uma escrava. Tudo que ela costumava fazer era, sempre quando Adão chegava em casa tarde e ia dormir, ela contava as costelas dele. Ela temia que Deus criasse outras mulheres, retirando outras costelas. E o homem, desde então... talvez a idéia de Deus seja também do homem. Deus também é um macho chauvinista: na sua trindade não há lugar para a mulher.
O homem tem tentado cortar de todas as maneiras a liberdade das mulheres.
Isso é política; não é amor.

Você ama uma mulher, mas você não lhe dá liberdade. Que tipo de amor é esse, que tem medo de dar liberdade?
Você a engaiola como a um papagaio. Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não compreende que está matando o papagaio! Você retirou todo o céu do papagaio e deu a ele apenas uma gaiola. A gaiola pode ser feita de ouro, mas mesmo uma gaiola dourada não é nada comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de uma árvore para a outra, cantando a canção deles... não o que você força-os a dizer, mas o que é natural para eles, que é autêntico para eles.
A mulher continua fazendo coisas que o homem quer. Ela, aos poucos, esqueceu completamente que ela também é um ser humano.
Na China, por milhares de anos, um marido podia matar a esposa. Só em 1951 surgiu uma lei impedindo isso. Até 1951, ao marido era permitido: se ele quisesse matar sua mulher era assunto dele, era mulher dele, uma possessão. A lei não tinha nenhum interesse de interferir nas posses dele. E, ainda mais, a China acha que as mulheres não possuem almas; só o homem possui uma alma.
É por isso que na história da China você não irá encontrar uma única mulher do calibre de Lao Tsu, Lieh Tsu, Confúcio, Mencius.... nem uma mulher. Se você não tem uma alma você é só uma coisa; você não pode competir com o homem.
Metade da humanidade, em cada país, em cada civilização, tem sido destruída pela política familiar. Você pode não estar chamando isso “política”, mas é política. Sempre quando há um desejo por poder sobre outra pessoa, isso é política. Poder é sempre político... mesmo sobre crianças pequenas. Os pais pensam que as amam, mas isso é somente na mente deles porque eles querem que as crianças sejam obedientes – e o que significa obediência? Significa que todo o poder está nas mãos dos pais.
Se a obediência é uma qualidade tão grande, porque os pais não podem ser obedientes às crianças? Mas isso não tem nada a ver com religião. Tem tudo a ver com esconder a política numa bela palavra.
O homem precisa se expor em todos os pontos, onde quer que a política tenha penetrado – e ela penetrou em toda parte, em cada relacionamento. Ela contaminou toda a vida do homem, e continua contaminando.

Osho, em "The Path of the Mystic"

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